terça-feira, 18 de setembro de 2012

Veteranos de Guerra


Veteranos de Guerra













 Outro dia li o comentário de alguém que dizia que o casamento é uma armadinha: fácil de entrar e difícil de sair. Como uma guerra.
Aí fiquei lembrando dos desfiles de veteranos de guerra que a gente vê de filmes americanos, homens uniformizados em suas cadeiras de roda apresentando suas medalhas é também suas amputações. Se amor e guerra se assemelham, poderíamos imaginar também um desfilhe de mulheres sobreviventes desse empate no qual todo mundo quer entrar e poucos conseguem sair _ ilesos. Não se perde uma perna ou braço, mais muitos perdem o juízo e alguns até a fé.
Depois de uma certa idade, somos todos veteranos de alguma relação amorosa que deixo cicatrizes. Todos. Há inclusive os que trazem marcas imperceptíveis a olho nu, pois não são sobreviventes do que aconteceu, e sim do que não aconteceu: sobreviveram à irrealizações de seus sonhos, que é algo que machuca muito mais. São os veteranos da solidão.
Há aqueles que viveram um amor de juventude que terminou cedo demais, seja por pressa, inexperiência ou imaturidade. 
Casam-se, depois, com outra pessoa, constituem família e são felizes, mas doí uma ausência do passado, aquela pequena batalha perdida.
Há os que amaram uma vez em silêncio, sem se declarar, e trazem dentro do peito essa granada que não foi detonada. Há os que se declararam e foram rejeitados, e a granada se estraçalhou tudo por dentro, mesmo que ninguém tenha notado. E há os que viveram amores ardentes, explosivos, computando vitórias e derrotas diárias: saem com talhos na alma, porém mais fortes do que antes.
Há os que preferem não se arriscar: mantem-se na mesma trincheira sem se mover, escondidos da guerra, mas ela os alcanças, sorrateira, e lhes apresenta um espelho para que vejam suas rugas e seu olhar opaco, as marcar precoces que surgem nos que, por medo de se ferir, optaram por não viver.

Há os que têm a sorte de um amor tranquilo: foram convocados para servem os enfermeiros do acampamento, os motoristas da tropa, estão ali para servir e não para brigar na linha de frente, e sobrevivem sem nem uma unha quebrada, mas desfilam assim mesmo, porque foram imprescindíveis, ao limpar o sangue dos outros.
Há os que sofrem quando a guerra acaba, pois ao menos tinham um ideal, e agora não sabem o que fazer com o futuro de paz.
Há os que se apaixonam por seus inimigos. A esses, o céu o inferno estão prometidos.
Há os que não resistem até o final da história: morreram durante a luta e viram memória.
Todos são convocados quando jovens. Mas é o desfile final que se saberá quem conquistou medalhas por bravura e conseguiu, em meio ao casos, às neuras e às mutilações, manter o coração ainda batendo.


Retirado do Livro Feliz por Nada de Martha Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário