quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mãos


Mãos



São as mãos as mais capazes de descrever a marcha do tempo.
São as mãos que antes dos vintes anos reclamam vingança.
São as mãos que nunca se cansam de escavar, de procurar.
São as mãos que se erguem triunfalmente, e no segundo seguinte desabam.
São as mãos que não cessam de acariciar as transparências da terra.
Que possuem, timidamente, sem se fazer notar.
São elas que não sabem e têm consciência de não saber.
São elas que delimitam os territórios do sonho.
São ela que planejam o futuro.

Essas mãos que eu conheço e que, no entanto, me perturbam.
Essas mãos que, certa feita, me disseram: tenta, e parte.
Essas mãos que, apressadas, me levam de volta infância.
Essas mãos que não cessam de desafiar as trevas.
Essas mãos que nunca manejaram outra coisa além das coisas reais.


Reinaldo Arenas
Le  Monde hallucinant ( O mundo alucinante)

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