Mãos
São as mãos as mais
capazes de descrever a marcha do tempo.
São as mãos que
antes dos vintes anos reclamam vingança.
São as mãos que
nunca se cansam de escavar, de procurar.
São as mãos que se
erguem triunfalmente, e no segundo seguinte desabam.
São as mãos que não
cessam de acariciar as transparências da terra.
Que possuem,
timidamente, sem se fazer notar.
São elas que não
sabem e têm consciência de não saber.
São elas que delimitam
os territórios do sonho.
São ela que planejam
o futuro.
Essas mãos que eu
conheço e que, no entanto, me perturbam.
Essas mãos que, certa
feita, me disseram: tenta, e parte.
Essas mãos que,
apressadas, me levam de volta infância.
Essas mãos que não
cessam de desafiar as trevas.
Essas mãos que
nunca manejaram outra coisa além das coisas reais.
Reinaldo Arenas
Le Monde hallucinant ( O mundo alucinante)
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