quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cresça e Divirta-se

  Cresça e Divirta-se


Tenho viajado bastante para acompanhar algumas pré-estreias do filme Divã, baseado no livro homônimo .
Delícia tarefa, ainda mais quando a gente gosta de verdade do trabalho realizado ,e esse filme realmente ficou enxuto, delicado e emocionante.
Além disso, consegue me provocar. A personagem Mercedes(vivida pela incrível Lilia Cabral) está fazendo análise e leva para o consultório muitos questionamentos sobre sua vida.
Até que, passando um tempo, finalmente relaxa e se da conta de que não há outra saída a não o ser conviver com suas irrealizações.
Diante disso, o analista sugere alta, no que ela rebate: “Alta? Logo agora que estou me divertindo? ”.
Eu tinha esquecido dessa parte do livro, e quando vi no filme, me pareceu tão cristalino: um dos sintomas do amadurecimento é justamente o resgate de nossa jovialidade, só que não a jovialidade do corpo, que isso só consegue até certo ponto, mas a jovialidade do espírito, tão prioritária.


Você é adulto mesmo? Então para de reclamar, pare de buscar o impossível, pare de exigir perfeição de si mesmo, pare de querer encontrar logico pra tudo, pare de contabilizar prós e contras, pare de julgar os outros, pare de tentar manter sua vida sob rígido do controle.
Simplesmente, divirta-se.
Não que seja fácil. Enquanto que um corpo sarado se obtém com exercícios, musculação, dieta e discernimento quanto aos hábitos cotidianos, a leveza de espírito requer justamente ao contrário: a libertação das correntes. A aventura do não domínio. Permitir-se o erro. Não se sacrificar em demasia, já que estamos todos caminhando rumo ao mesmo destino, que não é nada espetacular. É preciso perceber a hora de tirar o pé do acelerador, afinal, quem quer cruzar a linha de chegada ? Mil vezes curtir a travessia.
Dia desses  recebi um e-mail de uma mulher revoltada, baixo-astral, carente de frescor, e fiquei imaginando como deve ser difícil viver sem abstração e sem graça na vida, enclausurada na dor. Ela não estava me xingando pessoalmente, e sim manifestando sua contrariedade em relação ao universo, apenas isso: odiava o mundo. Não a começo, pode sofrer de depressão, ter um problema sério, sei eu. Só sei que há pessoas que apresentam quadro depressivo e ainda assim não perdem o humor nem que queriam: tiveram a sorte de nascer com esse refinado instinto de sobrevivência.
Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivar por décadas? Creio que nos apegamos com desespero a elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “ má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Por que fazemos isso conosco?
Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.


Retirado do livro Feliz por Nada de Martha medeiros

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