quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Viajandões.


Viajandões





Violência urbana nunca foi novidade. Aumentou, mas sempre existiu. Porém, até ela já teve dias de românticos. Podemos até sentir saudades de uma época em que os crimes erak protagonizados por uma turma que queria apenas enriquecer sem trabalhar, e para isso invadiam sua casa, levavam seu carro ou afanavam sua bolsa, mas sempre tendo a delicadeza de avisar antes; “Mãos ao alto, isso é um assalto”. Eles sabiam o que estavam fazendo. E uma vez com o objeto de desejo em mãos, iam embora apressados assim que ouviam as sirenes da polícia, não sem antes fazer uma mesura de despedida. Quase posso ver George Clooney no papel.
Hoje os meliante chegam agressivamente comunicando “Perdeu!, Perdeu!”, a polícia não aparece e ninguém sabe direito o que está fazendo: se antes éramos surpreendidos por um pessoal que, a seu modo, tentava evitar confusões desnecessárias, hoje nos atacam completamente chapados, alucinados e sem condição de distinguir assalto de um assassinato. Não se pode mais escolher entre a vida ou a bolsa: eles levam ambos.
A recomendação sempre foi a de não reagir. 


Eles têm uma arma, você não. Obedeça. Porém, até um tempo atrás, contávamos com um mínimo de discernimento a nosso favor. Quem te assalta sabia que estava cometendo um crime, sabia que deveria agir rápido e fazer o menor estrago possível, sem chamar atenção. Havia esperança de eles serem minimamente lúcidos e fazerem um serviço limpo.
Hoje, o cara que te ataca pensa que é Jesus Cristo. Tem delírio de todos os tipos. Se você ousar piscar o olho, ele poderá interpretar como um sinal feio para o carro  da frente. Se você estiver de camisa verde, isso pode ser considerado uma provocação, já que a grama também é verde, você por acaso o está mandando pastar? Em sua infinita doideira, nós é que somos a ameaças.
Não bastasse estarmos sem segurança nas ruas e à mercê de marginais que têm a maior facilidade para conseguir uma arma de fogo, ainda temos de lidar com essa outra  arma invisível e ainda mais letal: o descontrole de seus atos. Se antes torcíamos para que, quando chegar a nossa vez, o criminoso esteja de cara, sóbrio, no seu juízo perfeito, totalmente capacitado para levar o que é nosso sem entrar em surto.

É mais uma inversão de comportamento que a violência provoca. Antes, morrer de causa natural era morrer de velhice. Hoje, natural morrer de latrocínio. Cidadãos que trabalham e pagam impostos vivem em prisões domiciliar, atrás de grades. 

Você atende o telefone e alguém extorquir dinheiro através de um trote. Você não tem segurança para ir ao supermercado, Não tem segurança ao sair de uma igreja. Não tem segurança na escola.
E agora essa: ainda temos que torcer para que o agressor, ao nos atacar, não tenha medo de nós. 




Retirado do Livro Feliz por Nada de Martha Medeiros

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