terça-feira, 11 de setembro de 2012

O amor que vida traz


O amor que vida traz



Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil. O objeto desse amor nem precisaria ser muito bonito, nem rico. Uma pessoa bacana, que te adorasse e fosse parceira já estaria mais do que bom. Você quer um amor assim. É pedir muito? Ora, você está sendo modesto.
O problema é que todos imaginam um amor a seu modo, um amor cheio de pré-requisitos, Ao analisar o currículo do candidato, alguns itens de fábrica não podem faltar. O seu amor tem gostar um pouco de cinema, nem que seja pra assistir em casa, no DVD. E seria bom que gostasse dos seus amigos. E precisa ter um objetivo na vida. Bom humor, sim, bom humor não pode faltar. Não é querer demais, é. Ninguém está pedindo um piloto de Fórmula 1 ou uma capa da Playboy. Basta um amor desses fabricados em série, não pode ser tão impossível.
Ai a vida bate á sua porta e entrega um amor que não tem nada ver com o que você queria. Será que se enganou de endereço? Não. Está tudo certinho, confira o protocolo. Esse é o amor que lhe cabe. É seu. Se não gostar pode colocar no lixo, pode passar a diante, faça o que quiser. A entrega está feita, assine aqui, 
adeus.

E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imagina ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo é aquele que você havia solicitado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse monsense, esse amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não aparece.
Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que  não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não de pede, não se especifica, não se experimenta em loja, como quem diz: ah, este me serviu direitinho.

Aquele amor corretinho por você tão sonhado vai parar na porta de alguém que despreza amores corretos, repare em como a vida é astuciosa. Assim são as entregas de amor, todas como se viessem num caminhão da sorte, uma promoção de domingo, prêmio buzinando lá fora, mesmo você nunca tendo apostado. Aquele amor você encomendou não veio, parabéns. Agradeça e aproveite o que lhe foi entregue por sorteio.


Retirado do livro Feliz por Nada de Martha Medeiros

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